
Marília Balbé, 18 de abril
A tecnologia é um recurso essencial para as empresas e já faz parte do nosso cotidiano. Independente do segmento de mercado, a experiência digital já define as impressões de uma marca, produto ou serviço para clientes e usuários. São aplicativos ou sites, e não apenas lugares físicos, que se transformam em pontos de contato entre empresas e pessoas que consomem produtos e serviços.
Para uma empresa que entende esse cenário, gerar experiências digitais de qualidade é uma decisão que não pode ser adiada. Porém, fornecer produtos e serviços com sucesso, manter o relacionamento com clientes e, finalmente, garantir fluxos de receita e vantagem competitiva pode ser um grande desafio, principalmente quando o digital ainda é pouco explorado por empresas já consolidadas.
O sucesso não depende simplesmente de chegar primeiro, mas é redefinido por quem gera mais experiências marcantes. Sendo que, experiência positiva impacta em receita, como criar experiências memoráveis em estruturas sobrecarregadas e que dependem de processos que não favorecem a inovação?
Quebrar padrões para promover experiências líderes e mantê-las atualizadas, exige uma abordagem ampla na execução do produto e não focar somente em prazos e cronogramas relacionados à entrega final, que é um dos principais focos na mentalidade de projeto.
As necessidades dos clientes devem ser priorizadas, assim como a melhoria contínua e a coleta de feedbacks dos usuários, que devem fazer parte de todo o ciclo de vida do produto, desde a concepção até a evolução do que foi desenvolvido. É o que chamamos de mentalidade de produto.
Mas você sabe as diferenças entre projeto e produto? Continue a leitura que neste artigo explicamos todas elas.
Em geral, os projetos têm objetivos bem definidos e prazo de conclusão.
De acordo com o Guia PMBOK, a definição de projeto é um esforço temporário empreendido para criar um produto, serviço ou resultado exclusivo. Sendo assim, sua natureza é temporária, tem início e término bem definidos.
A intenção, quando estamos trabalhando em um projeto, seja na construção de uma casa ou desenvolvendo um projeto de um software, por exemplo, é cumprir o cronograma e atingir o foco principal: a entrega do projeto.
Como o foco está centrado na entrega, prazos e tempo de execução são os principais índices que definem o sucesso do projeto. Precisão nos cronogramas estipulados, assim como traçar um caminho para atingir os prazos são os principais fatores que compõem um bom resultado de um projeto.
Em contrapartida, um produto entregue com foco apenas em cumprir um cronograma, não necessariamente é uma métrica de sucesso. Isso porque apenas focar em prazos e tempo de execução não garante que o produto irá gerar os resultados esperados ou que atenderá a necessidade do usuário.
Produto é um bem, físico ou virtual, que visa resolver um problema, atender uma necessidade ou satisfazer um desejo.
O foco do produto é o resultado, a rentabilidade do que foi desenvolvido, tudo isso a partir de aprendizados e feedbacks que ajudam a melhorar e evoluir ainda mais o que foi feito.
Diferente do foco de projetos que está concentrado em fatores como: o que o projeto precisa entregar, quando ele precisa ser entregue, dentro de qual orçamento e ainda orientado por um escopo fixo, que não favorece a inovação.
O que é uma mudança significativa se comparada à mentalidade de projeto. Em vez de focar apenas em cronogramas e datas, a mentalidade de produtos se concentra no objetivo a ser alcançado a partir do produto e está em constante evolução.
Para construir um produto, inicialmente, temos o processo de Discovery (descoberta), que envolve não apenas a pessoas de Produto, alia também pessoas de UX (experiência de usuário) de forma mais efetiva, e inclui as pessoas de Tecnologia que complementam a ideia de como fazer as hipóteses que estamos levantando.
Além do processo de Discovery, o produto também passa pelo Delivery (entrega), que contempla o desenvolvimento (transformar a hipótese em uma solução visível para o usuário) com o time de Tecnologia atuando de forma efetiva.
Esses processos não são rígidos, sempre evoluem através do aprendizado, que, ao longo do ciclo de vida do produto, se adapta e se modela.
A mentalidade de produto nos permite aprender, adaptar e manter o objetivo no resultado. O que se busca é proporcionar a melhor experiência para o usuário final e de fato resolver problemas da vida real, trazendo valor ao que foi desenvolvido.
Quando negócio, produto e tecnologia estão em harmonia, conseguimos potencializar os resultados de negócio ao otimizar as decisões de produto.
Assim como o projeto, o produto apresenta um ciclo de vida. No que tange a tempo, os ciclos de produtos são diferentes de ciclos de projetos. As fases do produto são condicionadas ao fator de retenção (grau de aceitação dos usuários) e podem ser mais ou menos duradouras.
Afinal, quais os benefícios de adotar a mentalidade de produtos?
Você deve estar se questionando sobre os benefícios de deixar de lado o foco exclusivo em cronogramas e entregas, característicos de um projeto, e passar a adotar a mentalidade de produtos, com foco no resultado final, não é mesmo?
Quando adotamos a mentalidade de produto, é o objetivo que nos guia, o principal benefício desta abordagem é a garantia de que chegamos ao objetivo final da forma mais eficiente.
Já na mentalidade de projeto, segue-se um plano de projeto (planejado detalhadamente logo no início e seguido à risca), não permitindo mudanças no escopo. Se o plano estiver certo, e o que foi detalhado inicialmente for a solução certa, ótimo. Apenas executamos o plano e alcançamos o resultado. Mas e se inicialmente estivéssemos errados e a solução que identificamos não alcançasse o resultado esperado?
É aí que pensar em termos de projeto pode gerar impasses. Uma vez traçado um plano de execução, implementar mudanças ao longo de qualquer etapa é muito mais difícil, principalmente em grandes estruturas organizacionais.
Quando as datas e prazos são definidos e todos concordam com o plano, em geral é isso que fica na mente de todos, apesar dos esforços de adaptação e aprendizado. Nesses casos, perder prazos pode impactar a equipe e causar prejuízos enormes para a organização.
Com a mentalidade guiada por termos de produtos, somos capazes de aprender e adaptar rapidamente ao longo do ciclo de desenvolvimento. Se algo não der certo ou os clientes não responderem bem a uma determinada funcionalidade, levamos isso em conta, e, de forma ágil, adaptamos, aprendemos e trabalhamos para que o resultado desejado seja atingido, sem jogar fora o plano e o objetivo que todos estão esperando.
Quando os problemas surgem (e não se engane, eles sempre surgirão), o pensamento de produto nos permite aprender, adaptar e manter o foco no resultado que queremos alcançar. Em contrapartida, quando surgem problemas e estamos presos ao pensamento de projeto, com foco total no cronograma, muitas vezes não há espaço para adaptação e aprendizado.
A essência do pensamento de produto é apresentar soluções que sejam relevantes para o cliente. Se o produto não busca solucionar uma dor do cliente, então o mesmo não irá se encantar pela solução e se dispor a pagar por ela. Logo, o produto digital torna-se desnecessário.
No pensamento de projeto, a busca por atender o escopo é onde os esforços se concentram, deixando de lado a importância essencial à experiência do cliente, que são as percepções e sentimentos relacionados pelo efeito da interação com o produto.
A preocupação do projeto é seguir o que foi acordado. Mas muitas vezes, ao longo do desenvolvimento, os acordos iniciais não fazem mais sentido quando chega a entrega.
Tudo o que trouxemos até agora está muito relacionado com conceitos teóricos, então vamos trazer alguns exemplos práticos para ilustrar melhor.
A construção de uma casa, é um ótimo exemplo de projeto. Quando vamos construir uma casa, precisamos reservar um orçamento, passar pela seleção da planta baixa, escolher os acabamentos e demais detalhes da casa e, em seguida, é necessário realizar os pagamentos para que o projeto avance.
Já no início da construção, o engenheiro que você contratou estima uma data para a finalização. É claro que há muitos fatores considerados nessa estimativa, e muitas vezes acontecem imprevistos que atrasam as datas. Porém, por ser um processo bastante repetitivo e com etapas bem definidas, é possível analisar o plano semana a semana e determinar uma expectativa para a conclusão do trabalho.
Projetos de construção, por exemplo, são muito orientados pelo gerenciamento de projetos. Ou seja, todos os envolvidos sabem o que precisa ser feito e manter as pessoas dentro do cronograma é a chave para o sucesso.
Mas esse tipo de gerenciamento de projetos pode funcionar em todos os casos? Não, não funciona!
Quando pensamos no desenvolvimento de uma plataforma, aplicativo ou qualquer outro produto digital, por mais que seja atrativa a ideia de construção, eles não são isso. Os planos e o trabalho definidos detalhadamente desde a concepção não se traduzem no decorrer do desenvolvimento de produtos. Sabemos que existe um grande conforto em prazos bem definidos, mas não é assim que devemos desenvolver o produto.
O desenvolvimento de um produto exige uma compreensão clara do contexto em que será aplicado, é necessário entender profundamente o cliente final além de todos os stakeholders envolvidos (cliente, parceiros, fornecedores, funcionários da empresa, etc.) para garantir o sucesso.
Se ao longo do desenvolvimento for identificado um problema que pode afetar o resultado, é necessário obter a maior clareza possível sobre o problema e só após essa compreensão estruturar ações de correção. Por isso, o pensamento de projetos não é a melhor solução quando se trata de produtos. Já que a mentalidade de projeto se concentra muito mais em cumprir cronogramas e avançar para a próxima etapa.
Adotar uma mentalidade de produto potencializa a inovação na empresa e permite competir no ambiente digital, dessa forma é possível aprender ao longo do caminho e ajustar rapidamente as ações para melhorar a experiência dos clientes e dar suporte a produtos existentes. Mas os impactos vão além da experiência do cliente, e os benefícios podem até mesmo refletir no aumento de receita ou engajamento.
Por mais que o desenvolvimento de um produto exija algum nível de gerenciamento de projeto, afinal, é necessário garantir o andamento das coisas, a chave é que na mentalidade de produtos, prazos e planos do projeto podem ser assumidos a partir da compreensão do cenário como um todo.
Contrariando a mentalidade de projeto, que assume de antemão um comprometimento com cronogramas e prazos, no desenvolvimento de um produto é possível assumir esse compromisso após validar o que estamos fazendo e ter a chance de realmente entender o que será necessário para gerar valor e resolver os problemas identificados. Isso permite que a equipe faça descobertas e pesquisas adequadas, para a partir destas etapas, adotar prazos e cronogramas.
É importante ajudar as pessoas a entender os benefícios de adotar a mentalidade de produtos. O apego à timelines e prazos pode estar justificado quando está relacionado a uma visão do negócio e de orçamento, por exemplo, mas deve ser ponderado para abrir espaço à inovação. Por isso, é importante ter clareza sobre a função da timeline, nesses casos.
Se o objetivo da timeline estiver focado em ajudar a vender o produto, é importante adaptar os esforços em funcionalidades específicas para uma maior abrangência do produto. Agora, se a timeline está orientada somente à gestão de risco, talvez seja necessário ajudar as pessoas a entenderem que o risco real não é perder um prazo, mas perder completamente o sentido de valor que queremos entregar. Já que construir um produto que não tem valor percebido pelos usuários é onde se concentram os maiores riscos de desperdício de esforços e recursos.
Por fim, o propósito do desenvolvimento de produtos é entregar valor às pessoas usuárias e consumidoras. A maior parte do tempo, nos dedicamos a entender o que é esse valor – o que pode ser mutável ao longo do desenvolvimento, somente é possível saber o que vai funcionar ao entregar o produto e o valor desejado.
Enquanto o pensamento em termos de projeto foca em trazer soluções objetivas desde o início do projeto e em entregas com base em um cronograma monitorável, o pensamento de produto não se resume apenas em desenvolver produtos melhores para clientes, mas uma abordagem mais tática e orientada a resultados para a criação de valor em qualquer esfera.
O que exige um certo nível de conforto com a incerteza e com o aprendizado e pode ser bem difícil em estruturas mais tradicionais. Porém se queremos atingir o objetivo correto, e não só um resultado pontual, essa é a melhor forma de fazer.
O pensamento de produto pode ser uma prática aplicada também nas demais áreas, não apenas restrita à design e produtos, tecnologia e negócios, independentemente de haver uma experiência front-end ou ainda uma interface. É quando você consegue extrair recursos de produtos, design e tecnologia, e aplicar de forma ampla em diferentes lugares, que de fato a mudança de cultura pode acontecer.
Esperamos que esse conteúdo te ajude a considerar o tema e fomente boas decisões de negócio!
Quer saber mais sobre Estratégia de Produtos? Leia também o artigo sobre User Story Mapping, nele explicamos um pouco mais sobre as técnicas e estratégias que adotamos aqui na Trinca e continue atento às novidades do nosso blog.